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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

PISO TÁTIL SEM TATO


PISO TÁTIL SEM TATO

Nem pense que é fácil
o mestre da Resiliência
fraqueja com esse descaso
fadado ao direito forjado
inventivo senso prático
extingue devota paciência
Não requer se quer o que
Enxergue  ou se distingue
indiferença lhe faz presença
Formas garrafais na mente
Segue o piso tátil à parede
A ruptura de toda  rede
lhe tira qualquer opção
deixa-o a mercê dessa roleta
dos cinismos da civilização
Estado de falência prudente
De um sistema dissimulado
Que não enxerga o cego
nem o que fala a bengala
Mas embargado de boa ação
Inaugura qualquer canalha
retrata uma coisa que é fato
Surge do coração do invisível
Não ver a visão vergonhosa
passa pela equação dos passos
Nesse passeio do previsível
Até o vento é testemunha
Pausa na fala revela o retido
Para armar passo em falso
não requer audiodescrição
que o desconforto é latente
teatro do cochicho indiscreto
e a fragrância exala o ostentado
se quer notam que o sentido
vai alem do rejeitar  olfatos
pelo qual justifica o disfarço
conflitos sutis chegam ao ouvido
Oh seres engravatados;
Comportas as cegas sociológica
mas que falta de percepção
cognitivo milita a audição
A incógnita dessa escuridão
perdido a visão mas não o foco
Tato perplexo da linha tênue
Entre ser um ser diferente
E jamais  ser um ser igual.

SÉRGIO CUMINO – PCD – POESIA COM DEFICIENCIA


domingo, 25 de novembro de 2018

CAVALEIRO DE RODAS




CAVALEIRO DE RODAS

O pânico dos vulneráveis já tem estatística,
Após violar o quadro de natureza morta
Lançou-se a rua que se quer ladrilharam
Dando rodas para que te rodes
 E o drible da vaca,nas  valas escancaradas
tantas bocas desdentadas nessas paralelas
preferencial não passa da via transversal
e desce o intruso de rodas pela banguela
Em meio condutores de vidas cegas
aos berros vociferam ódio ao vento
loteria no transito a freada opressora
como naufrago no caos e sem acesso
pede perdão estrangulado pela culpa
A frente do cortejo de seres impaciente
Quixote em seu Rocinante de rodas
Nas corredeiras da empáfia
Cuja curva acumula salivas
Mistura-se a virose das babas
Dessa autarquia que castra
Cavaleiro andante afere suas rodas
Na batalha de buzinas das beatas
O pânico das famílias  tementes
principio da realidade dos dementes
Expressam de suas vísceras flácidas
-O que fazem na rua atrapalhando o fluxo?
-Precisamos vir no livro sagrado, lá deve
Especificar onde é deposito de aleijados.
Escaparam das fendas da cidade em ruínas
Durante o grito do olhar do preconceito
Que atravessa a alma como vergalhões
Viadutos e pontes são artérias rompidas
A Implosão arquitetônica indeferiu acessos
O império do descaso se compõe sem rampa
Subjetiva eloqüência é concreto e armado
Egoísmo urbano sobrepõe o humano
Com os louros da vida excludente
Assim como o sorriso do passeio maltratado
Desvia o olhar diz ao assessor abafa o caso,

SÉRGIO CUMINO – PCD – POESIA COM DEFICIÊNCIA


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BANDO TEATRO OLODUM NUM RITUAL CATÁRTICO.





 BANDO TEATRO OLODUM NUM RITUAL CATÁRTICO.


 Teatro e o debate da consciência negra, a arte como expressão cultural e de resistência em abril 2010, preparei dois artigos sobre a temporada nos palcos de São Paulo do Grupo Bando de Teatro Olodum, para o Correio Nago de Salvador. O espetáculo em questão é Cabaré da Raça.
O publico na maioria de negros, o que configura uma platéia já simpática ao grupo, uma impressão melhor teríamos se fosse mais diversificada.

O grupo Bando despertou outros pontos que vale colocar em pauta. O espetáculo aponta questionamentos sobre o negro como um ser social, considerando-se ser um grupo genuinamente de negros, a força de cada texto dito pelas personagens, faz do palco um divã coletivo. Coloca ali a auto-estima necessária e a falta dela, a revolta e o orgulho, o dito e o não dito, tudo em cena, corresponde a vivencia dos artistas em seus cotidianos e levaram a platéia a refletir junto, em situações que o publico se identifica em gênero e grau.

Há ai um fato interessante no trabalho, segundo Bertolt Brecht “o mundo é um grande teatro, pena que com péssimos atores” o grupo explora essa premissa brechtniana com grande propriedade, colocando as personagens como arquétipos desse conflito sócio-racial, demonstram que quando cônscios de sua condição sociológica tornam-se protagonistas de primeira linha.

 O que chamo de coluna central do grupo é a força expressa pela vontade e alegria de fazer parte, de uma ideia com base na força estética do núcleo. Nesse ponto o espetáculo é generoso, todo elenco, atores e atrizes, músicos, tem seu momento solo, (e dar seu recado). Onde o protagonista e antagonista do espetáculo é o mesmo sujeito, o preconceito.

Levar a cena, uma temática cuja pluralidade de impressões, numa miscelânea de síntese e antítese. Fortaleceu o próprio grupo, como propósito do porque serem artistas, e a consciência de ser uma molécula viva e em transformação e contribuírem ao que podemos chamar de uma revolução maior dentro do conceito da diversificação, que evolui e vai além do conceito marxista de revolução de massas o que Felix Guatarri chamou de revolução molecular.

Sinto que o tema favoreceu a companhia como organismo, é um exemplo que pode servir de inspiração a outras organizações, que quando se jogam numa missão social seja ela qual for, é necessário essa auto-analise esse mergulho em si, no Caos e deixar fluir, o que de fato deseja dizer ao mundo. Esse processo desenvolve o comprometimento de cada um, o que fortalece o coletivo. Por conta disso resolvi me ater nesse primeiro artigo sobre o grupo, a questão de ser UM GRUPO.

Portando o fortalecimento do organismo, com identidade própria é fundamental, esse sim é o alicerce. Mas o processo tem que ser continuo, outro fator é a capacitação de todos, aprimoramento de linguagens, e o que é fundamental, onde as organizações pecam em se vir como empreendedores, esquecendo-se de sua auto-sustentabilidade.

Voltando ao espetáculo, ele inicia com um personagem anunciando direto com o público, que o espetáculo é de fato panfletário. O anuncio intencional, já mostra embutido no discurso do arauto, que sabem o risco que correm, assumindo o espetáculo com essa estética, mas também esta nela o melhor formato, tornando o espetáculo dialético o tempo todo, um cabaré ao estilo Brecht, mostrando através de uma galeria de personagens os estereótipos sociais dentro do preconceito racial. Um desabafo do Bando para o público, do Bando para o Bando, onde até o nome assumido, pela Cia desenvolve essa coerência, assim a catarse teatral cumpriu seu papel. 

Fato o publico sente-se com a alma lavada, harmonizando consciente e inconsciente, através do ritual do teatro (surgiu ao mundo com essa função) derrubando essa mascara social, imposta por séculos de uma moral branca imperialista, e mostrando que a aceitação da diversidade é um caminho de fato prospero.

Sérgio Cumino – Ator, diretor de Teatro, poeta e coordenador de projetos sociais.


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MITOS URBANOS E SUA ESSÊNCIA ANCESTRAL

MITOS URBANOS E SUA ESSÊNCIA ANCESTRAL

Da Benção da Mãe Preta ao Asé do Zumbi do Palmares,  mitologia Africana tomando as praças suplantando: signos da resistência, bandeiras ativistas e homenagens alegóricas – e situa-se para lá de nossas compreensões e sendo reflexo dos nossos inconscientes indicando caminhos e transcendendo principio de realidade

 'Mãe Preta “(1955) escultura de Júlio Guerra -Largo Paissandu- São Paulo/SP-Brasil
Ao lado da Igreja N.Srª do Rosário dos Homens Pretos. Escultura 'MÃE PRETA'- é uma homenagem à Mucama que dava seu leite ao filho do 'Senhor', sendo que para isso, muitas vezes, era sacrificado seu próprio filho, para sobrar leite ao seu 'filho branco'. 
Com quase três séculos de existência, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, ligados a igreja católica, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos.
 A escultura quando aprovada para ser colocada na praça ao lado da igreja de certa forma era uma conquista de ações organizadas e toda a representatividade social da época, mas ela passou a ser um ícone maior que uma expressão da história e o registro artístico da condição da mulher escrava no Brasil.
Superou a alegoria o fato definitivo e ela tornou-se um mito, além das representações católicas que fortalecem a igreja vizinha. O mito é a transcendência a imagem da mucama amamentando, é uma sabedoria que vive em nós e representa a força desse poder, dessa energia, que flui no campo de tempo e espaço, fundamentando-se nos arquétipos de nossa ancestralidade.

Portanto a Mãe Preta realmente é um símbolo Mítico não pela História de sua vida e sim pelo Mito que se tornou. Há nesse contexto o aspecto psicossocial onde a torna um símbolo (alegoria) da resistência a intolerância religiosa. Ação que se fortalece contra preconceitos quando a fé e as forças que a regem vão às ruas com suas belezas e seus mistérios, ou como diz Muniz Sodré –Melhor forma de combater o preconceito é o amor -. Mesmo se representasse apenas o signo de uma resistência sócio-política, em prol das diversidades étnicas, já vejo aí um grande passo.

Quanto ao artista com ou sem religiosidade, a sua arte tomou vida própria e conecta diretamente com arquétipos da ancestralidade negra no Brasil. Há anualmente um cortejo com todas as simbologias de matrizes africanas chamado Águas Paulo de que culmina na oferenda de flores e perfumes da Mãe Preta, simbolicamente associada a Oxum, mãe da maternidade diretamente ligada pelos arquétipos do inconsciente ou como disse Shaun Mcniff o artista plástico Norte Americano “Há uma paisagem da mente que precisa ser alimentada pela paisagem real”.

Qual a ligação do escultor com a religiosidade de matriz africana? Provavelmente nenhuma. Quer-se passou pela cabeça do escultor que sua obra encomendada pela prefeitura da cidade de São Paulo viria a se tornar um verdadeiro mito. Mas que sua mão com certeza estava Abençoada pela Mãe Osun.

Ha rumores dando tom de fenomento que começa a se delinear na capital paulista.
 São freqüentes as velas acesas ao seu redor; bilhetes manuscritos pedindo graças e terços atirados no seu dorso. No dia da Consciência Negra foi coberta de rosas. Os padres da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que domina o largo, não estão gostando; acham que as homenagens devem ser dirigidas à santa no altar. Dois detalhes: a escultura de bronze, instalada em 1955, a igreja foi fundada em 1711 e sua irmandade continua ativa; é uma das mais antigas do País.

O protesto por parte da igreja é até pertinente, que essas pessoas louvem os santos da igreja ali do altar do templo, afinal a escultura tem uma representação alegórica, mas o que parece sem sentido, faz-se mais significado do que se imagina. Surge ai um processo em que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente, desencadeiam o desenvolvimento e uma verdadeira metamorfose da psique, o que de forma coletiva se encontra, nos diferentes sistemas religiosos e na transformação de seus símbolos.

 O que temos que atentar as pessoas à medida que vem crescendo sua devoção a escultura em busca de uma conexão com seu poder através do mito, torna-se uma relação organicamente relevante para vida dessas pessoas, como reflexos de suas almas, porta vozes de sua ancestralidade.
 A execução desses rituais centra o individuo, e a simples representação do mito, fazendo-os viver diretamente o mito.

A questão que a Mãe Preta foi além das palavras, da imagem, e ja aponta para alem de si mesma, o que podemos chamar de transcendencia. Devemos encontrar dentro dessa questão a sabedoria, não nos apegar a questão alegorica, como fazem alguns urbanistas, que torcem a boca quando se referem as oferendas deixadas aos pés da imagem, e sim encontrar os ensinamentos que enriquece nossa sabedoria pessoal, o sinal que nossa ancestralidade nos aponta com esses mitos urbanos é converte-los seus arquetipos num caminho próprio.

Ja a escultura do Zumbi dos Palmares de autoria da Artista Plástica Márcia Magno instalada na Praça da Sé na capital baiana já simboliza a história de luta e liberdade do povo negro.Como um ícone da resistência trás em si uma mítica inserida em seu signo e suas idéias que esta representada são reverenciadas como caminho que evoca nosso selfespiritual a segui-lo a sermos levado a sua morada, que é nosso próprio coração, que é o mais profundo de nossa própria fonte espiritual.

 Quando ocorre a lavagem da escultura do Zumbi um ato ritual, feitos pelas negras dos candomblés da Bahia, extrapola a história e a sociologia, se vemos sua escultura e o ato da lavagem com duas metáforas assim sendo a ritualística (lavagem) têm conotações dos poderes espirituais que estão dentro do individuo.

Não se louva a alma de Zumbi, e sim fortalece o arquétipo que o mito representa dentro de nós, por isso considerado o signo de toda uma raça, que tem ligação com a harmonização da consciência em si, em relação à base do ser na natureza, no corpo, que é em si uma manifestação do mistério. O ritual faz com que deixemos a interpretação histórica do símbolo numa posição secundaria dando relevância das formas simbólicas para nossa própria vida.

O Mito nos ajuda a reconhecer a profundidade do nosso ser, em suma a função principal dos ritos é orientar o individuo, levando a consciência onírica mais profunda e criativa, somado à consciência desperta que é critica, esse é o equilíbrio que buscamos o ASÉ!

Sérgio Cumino

– ATOS – Responsabilidade Sócio Comportamental e Diversidade funcional


domingo, 18 de novembro de 2018

EGO VIRTUAL




EGO VIRTUAL

A procura do perfil
Perde-se pela rede social
Encontra o dialeto tosco
Que supõe bom gosto
Suvinil de glamour suspeito
Que define como deve andar
Surgem bordões as trombetas
Para que arauto virtual insira
Design do surto plástico
Das curtidas #FAKE   

A procura do perfil
Vive o mundo paradoxal
Leva a quem pensa pouco
Futilidade e seu desconforto
As náuseas das frases feitas
Desse planeta do tanto faz
Acolhe qualquer receita
Lamentos que o ego empilha
Esconde engasgos drásticos
Camufla todos os defeitos

A procura do perfil
Perde-se no mundo desigual
Vísceras e ódio contra o povo
E o velho se disfarça de novo
Resistência as forças audaz
Fica de surdina a espreita
A todos aqueles que gritam
Vociferados balé de fanáticos
No embuste marcam medos

A procura do perfil
Experimenta catarse viral
Nudez de mórbidos cornos
Pega cedro de consolo
e todo prólogo que Jaz
O prazer que rejeita
Os sonhos que inspiram
Nonsense dos apáticos
Consagra o tirano eleito

A procura do perfil
Lavagem pentecostal
Crava a cruz no dorso
Volve divino aos planos
Corrompendo amor e paz
Quando a visão estreita
Cabrestos que limitam
Tira-lhe sensos práticos
Passa viver sob preceitos

A procura do perfil
A culpa o porá no beiral
Abismo afronta seu tolo
Contrasta os tronos
Paradigma se desfaz
Nem sempre a colheita
Será o que confeita
Jamais o deixará pleno
Mantendo-o ao parapeito

SÉRGIO CUMINO – PCD – POESIA COM DEFICIÊNCIA

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SONHO ACORDADA





SONHO ACORDADA

Na boca da noite
Deslizando sobre ombro
Sente um  cochicho
De um sensual contexto
Passa a primeiro plano
Dentro daquele aconchego
Ouvir – eu te amo!
Vibra no corpo inteiro
Quem puxa o corpo ao meu
foi calcanhar o primeiro
enquanto a mão
prende a do faceiro
acomodada sobre seios
meu corpo provoca
Contorça-me como roça
Assim sinuosa  encontra
A graça de uma concha
Os calores esta as tantas
Como alvorada logo canta
o tempo não compromete
em todo movimento
solenemente ele para
deixa-nos entretidos
despidos sob a lua
vivencio como poucas
ser intensa e toda sua
como galante escultor
orquestra meus gemidos
no clímax de cada gozo
Como não se sentir tarada
Mesmo toda molhada
Leva-me ao segundo capitulo
Meu suspiro é um grito
Que vem do sorriso
Que se abre como as pernas
Toda desejada a cada levada
Como criança encantada
Solta e sem roupas
Em lençóis sem vinco
Como num conto: safada
Deusa, rainha, concubina
a melhor de minhas loucas
esparrama-se arrebatada
por a audaz pegada
contorna-me e amassa
Clímax que expressa
todas as formas de boca
na plenitude de ser amada

SERGIO CUMINO – POETA, FLOR & PELE