A zona três é a senzala
Da praia grande
Conforme geopolítica
E intolerantes associados
corresponde
ao porão
do navio negreiro
subumano
afeiçoasse a nave
oprimido vislumbrado com opressor
e aos ratos que os consome
Remadores dessa caravela
Tem calos adaptados
o jeito mais
simples
de viver a vida
vagueia corrompida
e a base da pirâmide
vive como pode
como se pudesse alguma coisa
o que é de se lamentar
o corpo que
sustenta beira-mar
é o porto humano desigual
pela relevância
inverto essa
lógica
remeto a justiça de Ayra
seu mundo não
há senzala
e todos juntos na aldeia
sem um bom bordo
o navio não navega
o maior ativo da cidade
está na zona de guerra
da existência contra identidade
o anfitrião
em depressão
o que recebe com sorriso
a excursão forasteira
a procura do acolhimento
o âmago do espírito afável
mas só acolhe se for acolhido
como sopro que ainda lhe resta
subverte a lei dos ventos
e o esplendor do mar
não se tem que rezar
para resistir tentações
livrar-se do pecado
da divindade eurocêntrica
e ficar onde porão
Ignoram a zona original
Sobrevive ao descaso
por ser rico em diversidade
e toda indulgencia nata
ignorada pelos imediatistas
onde deixam o lixo
polui a dignidade
e adoece o corpo
a calada dor oculta
por pura negligencia
córrego o corte aberto
fluxos dos dejetos
sabe-se onde
vai parar
SERGIO CUMINO, OBSERVATÓRIO 803
Os dois lados de uma avenida dividindo realidades bem distintas e que nem de longe se misturam. Cruel realidade das extremidades na mesma cidade separada em dois mundos adversos de um lado a mão de obra barata que mantém a face mais abastada. Nesse contexto inerente a periferia, esta padece do esquecimento dos abastados do poder e vê-se em meio a podridão deixada nas ruas, envoltos no lixo, sua honradez e dignidade se esvai da mesma forma sem ter a quem pedir socorro e soltar o grito contido de nós existimos e queremos o mesmo tratamento que se dá ao outro lado da avenida. Não estamos aqui apenas como serviçais, buscamos respeito.
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