ESSE BLOG NÃO PERTENCE SÓ AO POETA, ELE É DE TODOS NÓS

terça-feira, 28 de agosto de 2018

MULTIVERSO NA GARGANTA


MULTIVERSO NA GARGANTA

Engasguei com pensamentos
E todas as frases impuras
Farofa de lógica apimentada
O que não cospe não fala
Catarro de incoerências
Sobe num regresso sem passe
E adoece a vontade dos planos
No ritmo que o peito grita
Feita a corneta de sepultamento
Salda os sentidos e aforismos
Pigarro e suas intenções em fuga
com legado da alcunha patética
Sentidos que o paladar padece
Enforcamento da brisa
Jugulou o olhar a reticências
Big bang em seu entalo quântico
Embaralho de todo suposto
Abafa um turbilhão de enganos
Acidente vascular ideológico
O ar é a parábola dessa busca
A sirene que alerta a conduta
revolução das placas do pulmão
o calor que eleva as vistas
lacrimejam sem foco preciso
os olhos parados como totem
império da classe  delatada
e seus ébrios por menores
dessa bola presa na garganta
Um nó em tudo que faz sentido
Fecha as possibilidades ao mundo
Universo versa o multiverso
e deseja saltar  pelo  buraco negro
No comboio da tosse seca
Desidrata até o bom senso
Que explode descontrolada
Essa chuvarada verborrágica

SÉRGIO CUMINO – PCD – POESIA COM DEFICIÊNCIA.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

RAZÃO SAMBOU

RAZÃO SAMBOU

Entre o bem e o mal
Não há candura
nessa vida io io
de saltos em vão
Sei quando desce
Sei quando sobe
E de nada se vale
E tudo se perde
Nem sempre alcança
E ausência perdura
Definido pela cor

Nessa trilha desigual
Não há lisura
Numa viela do rancor
Quebrada sem nação
Erra-te e esquece
Delega quem pode
Esconde quem sabe
É a melodia que difere
Os acordes trançam
Sina da partitura
De um samba de dor

Nessa noite marginal
E a roda da duvida
O oculto é doutor
Mais nota na canção
mortos sempre aparecem
nostálgico recorre
A medida que cabe
Emoção reverbere
dolo de uma criança
Enredo de luxuria
Da história de amor

Uma vereda musical
Marcado nas ruas
Sob estigma do ardor
Do conflito é ação
Improviso e esquetes
Mesmo sem alardes
Nesse palco se libere
Quixote e Sancho Pança
Sonho é fortuna
Que a memória guardou
Nesse mundo é ator

Conjuntura atual
Nem sempre cultua
O que difere o sabor
Da direito  a razão
Ao pandeiro e o pileque
O repique em vales
como respiro breve
breque do samba
Odisséias noturnas
sem dizer onde estou
farei inferno do pudor

SERGIO CUMINO – PCD – POESIA COM DEFICIÊNCIA

terça-feira, 21 de agosto de 2018

CANÇÕES DO AROUCHE

CANÇÕES DO AROUCHE

As arvores bailam
Como moças em festa
É a arena do Arouche
Ao som das raízes sagradas
Cantigas de Chicha
Ecoam como Pao
Dos rituais noturnos
Aos espíritos da praça
guardiões a floresta de pedra
Onde a Ginga do malandro
É o enredo dos cruzamentos
Divindades centenárias
E todas as lendas do Arouche
Testemunham os flertes
a brisa e a fumaça
Seus pontos e encontros
De engraxates, poetas
E senhoras paulistanas
Misturam-se a banca de flores,
De amores e lamentos
De jovens e seus gêneros
militância da diversidade
Outros tantos desafetos
Do proletário vira-lata
O tempo se grafa
Na escrita dos caules
E os olhos dos troncos
São marcas de açoites
Mata que a cidade mata
Câmbios das paragens
Ao olhar de Luiz Gama
dendês  se espalham
como forma de resistência
as sombras da triste fuligem
Nessa terra de descarte
temporão e  marcada
pelo estigma dos tempos
Onde os desolados sem teto
fazem guarida na noite
a praça sua cama
protegidos ao relento
Da escória da história
em  vias de  travessia
Descritas em troncos mortos
Arte e os demais interagem
Entalhos que acomodam
Os role a benção da Anciã
Veterana da Mata
Imponente de dez andares
Chama-nos a praça
De vibrações e magias
Acolhe-nos  como graça
Protege-nos do entorno
De concreto e seus adornos

SÉRGIO CUMINO – OBSERVATÓRIO 803


terça-feira, 14 de agosto de 2018

O BOLHA

O BOLHA

Um ser submerso
Em seu porto seguro
Uma vesícula fadada
Espectro submisso
subversivo, incisivo
para dentro do umbigo
Distante da ação arcada

Um câncer do ego
que ninguém governa
Que expressa pela boca
O seu olhar cego
Banal de ímpeto social
É sua bandeira de luta
A tese do seu pleito

Sua imagem refletida
Na parede de plasma
De textura gosmenta
Assim identifica seus pares
Sintoniza-se ao canal
Mas não forma hordas
Restrições da vaidade

Eloqüente e discursiva
Espécie de gorfo
Sobe-lhe o gosto
De dar sua sentença
Ao qual todo resto
É pensamento indigesto
Conectivo de sua disputa

Uma bola no estomago
De ideal tosco
O complexo de Édipo
Travestido deu sua soberba
Percorre o mundo
Projeta seu peito
Caminhadas largas

Vocifera seu litígio
O arauto do espelho
E flecha sem meta
Para nada alcançar
E sim o que enxergar
Para dentro da pança
Como rato na esteira

É celebre analfabeto
Em versos de Brecht
Entre a dialética pura
E sua bolha casinha
Esta fumaça do charuto
No palanque das veredas
Do cabaré dessa vida

SÉRGIO CUMINO – PCD -POESIA COM DEFICIÊNCIA

  


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

QUEDA DO ESPERADO

QUEDA DO ESPERADO

Despeço-me do que espero
A ti não me reservo mais
Desculpa-me nada pessoal
Como se vagas hipóteses
E o vago que venero
Fosse alicerce cúmplices
Desclassifico qual presunção
Outrora me via classificado
Como lembrete de porta

Passei a ser o que reverbero
 Conectado a outros sinais
Já não sou mais igual
Ao que fui a outras estrofes
O que queria, já não o quero
Parti para outros índices
Vivo o presente da ilusão
Assim recrio os anunciados
E o encanto nas linhas tortas

Construo outros critérios
Relacionados com a paz
Os mitos e todo o astral
Sou a prova dos noves
De cada dia singelo
Onde o amor persiste
Alimenta cada ação
Seja silenciosa ou aos brados
Sua liberdade que te provoca

Abandonei meus infernos
Aos quais eu era a caça
Reprimindo instinto animal
Ou que a alma evoque
Não sou sombra do que espero
Dei luz ao meu poeta em riste
Como uma Yabá em devoção
Reza cada passo dado
Para caminho não virar chacota

O tempo refinado de mistérios
Põe-nos ao sonho audaz
Nesse mundo desigual
Que o esperado não enforque
Porque é o trilhar que quero
É aqui que se existe
E despacha a frustração.
Mente espírito integrado
Ao mundo e suas voltas.

SÉRGIO CUMINO – OBSERVATÓRIO 803

domingo, 5 de agosto de 2018

JORNADA A IFÉ



JORNADA A IFÉ

Se existe  cúpido
Quero que o meu
         seja de logun Edé
O que  faz todo sentido
Para um bom principio
Sendo filho de quem é
É pura magia esses vales
Principalmente se cruzam olhares
No circuito da flecha
De seta dourada
Das benções do amor
Soma-se o arco de Odé
Encantamento dos olhos
É a visão que emana
Que oxum apontou  
Alameda secreta
Do portal do coração
sentido do horizonte
fun fun e dendê
se dêem as mãos
num junto e misturado
e a poesia do acaso
que explica emoção
como corredeiras de Oba
pulsa o peito ilumina o plexo
e a espuma que se forma
do abraço das águas e as pedras
Já castelo encantado
A pedido de Nanã
Seja sacramentado
Com abraço intimo
sob cabana de Ewá
purifica o querer
prepara o instinto
para bênçãos sagradas
que Ogum da as jornadas
as palhas fazem das chagas
estigma, dessa vida ancestral
na sabedoria de Omulú
discernimento e filosofia ao Orí
já Ibejí a alegria
florindo a vida sofrida
e o calor quando sobe
Na abundancia de Tempo
Porque Airá é o rebente
que as Aguas salgadas
mistura as cantigas do Luar
com ventos de Oya
 quando suas ondas bailam
como rendas magicas
 das setes saias de lebará
a provoca maresias quentes
dos desejos e seus mitos
Todo astral declarado
Desse poeta apaixonado
por essa filha de Iemanja

SÉRGIO CUMINO – POETA DE AYRÁ


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

ATOR



ATOR


A diversidade militante
Espírito impulsivo, pulso orquestrado
É o jogo do tablado, entre belo e feio
O Arauto e o mal falado
Drama mastigado do texto digerido
As vísceras de seu duplo
Hora flor, outrora dor
Faz do convicto perplexo
Leva a luz seu foco afinado
Como alegria de partido alto
Do inquisidor é o fogo
Da bruxa todo encanto
Germina seres com quereres
Intenções e estereótipos.
Em liturgias com crismas pagãs
No breque da pausa de Beckett
Canta ladainha verborrágica
Vive cerimônia e equilíbrio
Faz-se absurdo o aristotélico
Reflete a cena dialética
Vive o olhar nobre no plebeu moral
Resgatando do baú sem fundo
O burguês em pleno orgasmo econômico
O Quixote suspirando sonhos
No tablado seu templo
Celebra a áurea do saber
No entorno da fogueira
Da criação antropofágica
Entrega-se a orgia da ciência e filosofia
Com foco aberto na alma
 Corpo vivo e quente,
Sua voz vociferando literatura
Sussurrando brados
Sob desejos e obstáculos
É a gaivota no seu mergulho
É filho e conseqüência
É pai, mãe e criação
É ator.


SÉRGIO CUMINO   - PORTAL DELL ARTE


CHUVA DESNUDA




CHUVA DESNUDA

Silêncio que se instala
Prontidão é o aguardo
Faz dos ruídos, ouvinte
Ao canto das águas
E a vida celebra a vida
E os pássaros a espera
Uníssono coro
a opereta de alerta
Ribalta das copas
Ornamentam florestas

Diante da abundancia divina
Cada qual enche a vala
Conforme a sina
O úmido das sombras
é a carência do sagrado
Recluso na parábola
que a mente cria
é o árbitro do medo

E as poças possam
segredos e reflexos
como espelhos de moças
que ajuízam mistérios
por ondas dançantes
na extensão dos lagos
ao mergulho espalhados
múltiplas  gotas celeste
que se espalham
partindo de um centro

Assim nutrem as hortas
escorre por folhas
confortando preces
oriundas do campo

De um lado afaga
Do outro alaga
Vilas e quebradas
Refugiam as hordas
de  molhadas fabulas
Reclusas nos centros
Sob beirais
Sobre ponta dos pés
Como bailarino acuado
que preserva os jornais
que aquecem seu solado

Que emerge lembranças
Em estrofes da solidão
Hora chuva do pensamento
E conduz a meditação
Há chuva de tormentos
Outras que evocam
Sublimes e libertários
Pulsantes relâmpagos
Incisivos raios

Assim me integra ao mito
E intimo sagrado.
Mas essa chuva é musical
Reverbera sua poesia
Acordes de um samba canção

SÉRGIO CUMINO - OBSERVATÓRIO 803