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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BANDO TEATRO OLODUM NUM RITUAL CATÁRTICO.





 BANDO TEATRO OLODUM NUM RITUAL CATÁRTICO.


 Teatro e o debate da consciência negra, a arte como expressão cultural e de resistência em abril 2010, preparei dois artigos sobre a temporada nos palcos de São Paulo do Grupo Bando de Teatro Olodum, para o Correio Nago de Salvador. O espetáculo em questão é Cabaré da Raça.
O publico na maioria de negros, o que configura uma platéia já simpática ao grupo, uma impressão melhor teríamos se fosse mais diversificada.

O grupo Bando despertou outros pontos que vale colocar em pauta. O espetáculo aponta questionamentos sobre o negro como um ser social, considerando-se ser um grupo genuinamente de negros, a força de cada texto dito pelas personagens, faz do palco um divã coletivo. Coloca ali a auto-estima necessária e a falta dela, a revolta e o orgulho, o dito e o não dito, tudo em cena, corresponde a vivencia dos artistas em seus cotidianos e levaram a platéia a refletir junto, em situações que o publico se identifica em gênero e grau.

Há ai um fato interessante no trabalho, segundo Bertolt Brecht “o mundo é um grande teatro, pena que com péssimos atores” o grupo explora essa premissa brechtniana com grande propriedade, colocando as personagens como arquétipos desse conflito sócio-racial, demonstram que quando cônscios de sua condição sociológica tornam-se protagonistas de primeira linha.

 O que chamo de coluna central do grupo é a força expressa pela vontade e alegria de fazer parte, de uma ideia com base na força estética do núcleo. Nesse ponto o espetáculo é generoso, todo elenco, atores e atrizes, músicos, tem seu momento solo, (e dar seu recado). Onde o protagonista e antagonista do espetáculo é o mesmo sujeito, o preconceito.

Levar a cena, uma temática cuja pluralidade de impressões, numa miscelânea de síntese e antítese. Fortaleceu o próprio grupo, como propósito do porque serem artistas, e a consciência de ser uma molécula viva e em transformação e contribuírem ao que podemos chamar de uma revolução maior dentro do conceito da diversificação, que evolui e vai além do conceito marxista de revolução de massas o que Felix Guatarri chamou de revolução molecular.

Sinto que o tema favoreceu a companhia como organismo, é um exemplo que pode servir de inspiração a outras organizações, que quando se jogam numa missão social seja ela qual for, é necessário essa auto-analise esse mergulho em si, no Caos e deixar fluir, o que de fato deseja dizer ao mundo. Esse processo desenvolve o comprometimento de cada um, o que fortalece o coletivo. Por conta disso resolvi me ater nesse primeiro artigo sobre o grupo, a questão de ser UM GRUPO.

Portando o fortalecimento do organismo, com identidade própria é fundamental, esse sim é o alicerce. Mas o processo tem que ser continuo, outro fator é a capacitação de todos, aprimoramento de linguagens, e o que é fundamental, onde as organizações pecam em se vir como empreendedores, esquecendo-se de sua auto-sustentabilidade.

Voltando ao espetáculo, ele inicia com um personagem anunciando direto com o público, que o espetáculo é de fato panfletário. O anuncio intencional, já mostra embutido no discurso do arauto, que sabem o risco que correm, assumindo o espetáculo com essa estética, mas também esta nela o melhor formato, tornando o espetáculo dialético o tempo todo, um cabaré ao estilo Brecht, mostrando através de uma galeria de personagens os estereótipos sociais dentro do preconceito racial. Um desabafo do Bando para o público, do Bando para o Bando, onde até o nome assumido, pela Cia desenvolve essa coerência, assim a catarse teatral cumpriu seu papel. 

Fato o publico sente-se com a alma lavada, harmonizando consciente e inconsciente, através do ritual do teatro (surgiu ao mundo com essa função) derrubando essa mascara social, imposta por séculos de uma moral branca imperialista, e mostrando que a aceitação da diversidade é um caminho de fato prospero.

Sérgio Cumino – Ator, diretor de Teatro, poeta e coordenador de projetos sociais.


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