BANDO
TEATRO OLODUM NUM RITUAL CATÁRTICO.
Teatro e o debate da consciência negra, a
arte como expressão cultural e de resistência em abril 2010, preparei dois
artigos sobre a temporada nos palcos de São Paulo do Grupo Bando de Teatro
Olodum, para o Correio Nago de Salvador. O espetáculo em questão é Cabaré da Raça.
O publico na maioria de negros, o que
configura uma platéia já simpática ao grupo, uma impressão melhor teríamos se
fosse mais diversificada.
O grupo Bando despertou outros pontos
que vale colocar em pauta. O espetáculo aponta questionamentos sobre o negro
como um ser social, considerando-se ser um grupo genuinamente de negros, a
força de cada texto dito pelas personagens, faz do palco um divã coletivo.
Coloca ali a auto-estima necessária e a falta dela, a revolta e o orgulho, o
dito e o não dito, tudo em cena, corresponde a vivencia dos artistas em seus
cotidianos e levaram a platéia a refletir junto, em situações que o publico se
identifica em gênero e grau.
Há ai um fato interessante no trabalho,
segundo Bertolt Brecht “o mundo é um grande teatro, pena que com péssimos
atores” o grupo explora essa premissa brechtniana com grande
propriedade, colocando as personagens como arquétipos desse conflito
sócio-racial, demonstram que quando cônscios de sua condição sociológica
tornam-se protagonistas de primeira linha.
O que chamo de coluna central do grupo é a
força expressa pela vontade e alegria de fazer parte, de uma ideia com base na
força estética do núcleo. Nesse ponto o espetáculo é generoso, todo elenco,
atores e atrizes, músicos, tem seu momento solo, (e dar seu recado). Onde o
protagonista e antagonista do espetáculo é o mesmo sujeito, o preconceito.
Levar a cena, uma temática cuja
pluralidade de impressões, numa miscelânea de síntese e antítese. Fortaleceu o
próprio grupo, como propósito do porque serem artistas, e a consciência de ser
uma molécula viva e em transformação e contribuírem ao que podemos chamar de
uma revolução maior dentro do conceito da diversificação, que evolui e vai além
do conceito marxista de revolução de massas o que Felix Guatarri chamou de
revolução molecular.
Sinto que o tema favoreceu a companhia
como organismo, é um exemplo que pode servir de inspiração a outras
organizações, que quando se jogam numa missão social seja ela qual for, é
necessário essa auto-analise esse mergulho em si, no Caos e deixar fluir, o que
de fato deseja dizer ao mundo. Esse processo desenvolve o comprometimento de
cada um, o que fortalece o coletivo. Por conta disso resolvi me ater nesse
primeiro artigo sobre o grupo, a questão de ser UM GRUPO.
Portando o fortalecimento do organismo,
com identidade própria é fundamental, esse sim é o alicerce. Mas o processo tem
que ser continuo, outro fator é a capacitação de todos, aprimoramento de
linguagens, e o que é fundamental, onde as organizações pecam em se vir como
empreendedores, esquecendo-se de sua auto-sustentabilidade.
Voltando ao espetáculo, ele inicia com
um personagem anunciando direto com o público, que o espetáculo é de fato
panfletário. O anuncio intencional, já mostra embutido no discurso do arauto,
que sabem o risco que correm, assumindo o espetáculo com essa estética, mas
também esta nela o melhor formato, tornando o espetáculo dialético o tempo
todo, um cabaré ao estilo Brecht, mostrando através de uma galeria de
personagens os estereótipos sociais dentro do preconceito racial. Um desabafo
do Bando para o público, do Bando para o Bando, onde até o nome assumido, pela
Cia desenvolve essa coerência, assim a catarse teatral cumpriu seu papel.
Fato o publico sente-se com a alma lavada, harmonizando consciente e inconsciente, através do ritual do teatro (surgiu ao mundo com essa função) derrubando essa mascara social, imposta por séculos de uma moral branca imperialista, e mostrando que a aceitação da diversidade é um caminho de fato prospero.
Fato o publico sente-se com a alma lavada, harmonizando consciente e inconsciente, através do ritual do teatro (surgiu ao mundo com essa função) derrubando essa mascara social, imposta por séculos de uma moral branca imperialista, e mostrando que a aceitação da diversidade é um caminho de fato prospero.
Sérgio
Cumino –
Ator, diretor de Teatro, poeta e coordenador de projetos sociais.
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