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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MITOS URBANOS E SUA ESSÊNCIA ANCESTRAL

MITOS URBANOS E SUA ESSÊNCIA ANCESTRAL

Da Benção da Mãe Preta ao Asé do Zumbi do Palmares,  mitologia Africana tomando as praças suplantando: signos da resistência, bandeiras ativistas e homenagens alegóricas – e situa-se para lá de nossas compreensões e sendo reflexo dos nossos inconscientes indicando caminhos e transcendendo principio de realidade

 'Mãe Preta “(1955) escultura de Júlio Guerra -Largo Paissandu- São Paulo/SP-Brasil
Ao lado da Igreja N.Srª do Rosário dos Homens Pretos. Escultura 'MÃE PRETA'- é uma homenagem à Mucama que dava seu leite ao filho do 'Senhor', sendo que para isso, muitas vezes, era sacrificado seu próprio filho, para sobrar leite ao seu 'filho branco'. 
Com quase três séculos de existência, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, ligados a igreja católica, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos.
 A escultura quando aprovada para ser colocada na praça ao lado da igreja de certa forma era uma conquista de ações organizadas e toda a representatividade social da época, mas ela passou a ser um ícone maior que uma expressão da história e o registro artístico da condição da mulher escrava no Brasil.
Superou a alegoria o fato definitivo e ela tornou-se um mito, além das representações católicas que fortalecem a igreja vizinha. O mito é a transcendência a imagem da mucama amamentando, é uma sabedoria que vive em nós e representa a força desse poder, dessa energia, que flui no campo de tempo e espaço, fundamentando-se nos arquétipos de nossa ancestralidade.

Portanto a Mãe Preta realmente é um símbolo Mítico não pela História de sua vida e sim pelo Mito que se tornou. Há nesse contexto o aspecto psicossocial onde a torna um símbolo (alegoria) da resistência a intolerância religiosa. Ação que se fortalece contra preconceitos quando a fé e as forças que a regem vão às ruas com suas belezas e seus mistérios, ou como diz Muniz Sodré –Melhor forma de combater o preconceito é o amor -. Mesmo se representasse apenas o signo de uma resistência sócio-política, em prol das diversidades étnicas, já vejo aí um grande passo.

Quanto ao artista com ou sem religiosidade, a sua arte tomou vida própria e conecta diretamente com arquétipos da ancestralidade negra no Brasil. Há anualmente um cortejo com todas as simbologias de matrizes africanas chamado Águas Paulo de que culmina na oferenda de flores e perfumes da Mãe Preta, simbolicamente associada a Oxum, mãe da maternidade diretamente ligada pelos arquétipos do inconsciente ou como disse Shaun Mcniff o artista plástico Norte Americano “Há uma paisagem da mente que precisa ser alimentada pela paisagem real”.

Qual a ligação do escultor com a religiosidade de matriz africana? Provavelmente nenhuma. Quer-se passou pela cabeça do escultor que sua obra encomendada pela prefeitura da cidade de São Paulo viria a se tornar um verdadeiro mito. Mas que sua mão com certeza estava Abençoada pela Mãe Osun.

Ha rumores dando tom de fenomento que começa a se delinear na capital paulista.
 São freqüentes as velas acesas ao seu redor; bilhetes manuscritos pedindo graças e terços atirados no seu dorso. No dia da Consciência Negra foi coberta de rosas. Os padres da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que domina o largo, não estão gostando; acham que as homenagens devem ser dirigidas à santa no altar. Dois detalhes: a escultura de bronze, instalada em 1955, a igreja foi fundada em 1711 e sua irmandade continua ativa; é uma das mais antigas do País.

O protesto por parte da igreja é até pertinente, que essas pessoas louvem os santos da igreja ali do altar do templo, afinal a escultura tem uma representação alegórica, mas o que parece sem sentido, faz-se mais significado do que se imagina. Surge ai um processo em que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente, desencadeiam o desenvolvimento e uma verdadeira metamorfose da psique, o que de forma coletiva se encontra, nos diferentes sistemas religiosos e na transformação de seus símbolos.

 O que temos que atentar as pessoas à medida que vem crescendo sua devoção a escultura em busca de uma conexão com seu poder através do mito, torna-se uma relação organicamente relevante para vida dessas pessoas, como reflexos de suas almas, porta vozes de sua ancestralidade.
 A execução desses rituais centra o individuo, e a simples representação do mito, fazendo-os viver diretamente o mito.

A questão que a Mãe Preta foi além das palavras, da imagem, e ja aponta para alem de si mesma, o que podemos chamar de transcendencia. Devemos encontrar dentro dessa questão a sabedoria, não nos apegar a questão alegorica, como fazem alguns urbanistas, que torcem a boca quando se referem as oferendas deixadas aos pés da imagem, e sim encontrar os ensinamentos que enriquece nossa sabedoria pessoal, o sinal que nossa ancestralidade nos aponta com esses mitos urbanos é converte-los seus arquetipos num caminho próprio.

Ja a escultura do Zumbi dos Palmares de autoria da Artista Plástica Márcia Magno instalada na Praça da Sé na capital baiana já simboliza a história de luta e liberdade do povo negro.Como um ícone da resistência trás em si uma mítica inserida em seu signo e suas idéias que esta representada são reverenciadas como caminho que evoca nosso selfespiritual a segui-lo a sermos levado a sua morada, que é nosso próprio coração, que é o mais profundo de nossa própria fonte espiritual.

 Quando ocorre a lavagem da escultura do Zumbi um ato ritual, feitos pelas negras dos candomblés da Bahia, extrapola a história e a sociologia, se vemos sua escultura e o ato da lavagem com duas metáforas assim sendo a ritualística (lavagem) têm conotações dos poderes espirituais que estão dentro do individuo.

Não se louva a alma de Zumbi, e sim fortalece o arquétipo que o mito representa dentro de nós, por isso considerado o signo de toda uma raça, que tem ligação com a harmonização da consciência em si, em relação à base do ser na natureza, no corpo, que é em si uma manifestação do mistério. O ritual faz com que deixemos a interpretação histórica do símbolo numa posição secundaria dando relevância das formas simbólicas para nossa própria vida.

O Mito nos ajuda a reconhecer a profundidade do nosso ser, em suma a função principal dos ritos é orientar o individuo, levando a consciência onírica mais profunda e criativa, somado à consciência desperta que é critica, esse é o equilíbrio que buscamos o ASÉ!

Sérgio Cumino

– ATOS – Responsabilidade Sócio Comportamental e Diversidade funcional


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