MITOS URBANOS E SUA ESSÊNCIA ANCESTRAL
Da Benção da Mãe Preta ao Asé do Zumbi
do Palmares, mitologia Africana tomando
as praças suplantando: signos da resistência, bandeiras
ativistas e homenagens alegóricas – e situa-se para lá de nossas compreensões e
sendo reflexo dos nossos inconscientes indicando caminhos e transcendendo
principio de realidade
'Mãe
Preta “(1955) escultura de Júlio Guerra -Largo Paissandu- São Paulo/SP-Brasil
Ao lado da Igreja N.Srª do Rosário dos Homens Pretos. Escultura 'MÃE PRETA'- é uma homenagem à Mucama que dava seu leite ao filho do 'Senhor', sendo que para isso, muitas vezes, era sacrificado seu próprio filho, para sobrar leite ao seu 'filho branco'. Com quase três séculos de existência, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, ligados a igreja católica, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos.
Ao lado da Igreja N.Srª do Rosário dos Homens Pretos. Escultura 'MÃE PRETA'- é uma homenagem à Mucama que dava seu leite ao filho do 'Senhor', sendo que para isso, muitas vezes, era sacrificado seu próprio filho, para sobrar leite ao seu 'filho branco'. Com quase três séculos de existência, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, ligados a igreja católica, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos.
A escultura quando aprovada para ser colocada na praça ao lado da igreja
de certa forma era uma conquista de ações organizadas e toda a
representatividade social da época, mas ela passou a ser um ícone maior que uma
expressão da história e o registro artístico da condição da mulher escrava no
Brasil.
Superou a alegoria
o fato definitivo e ela tornou-se um mito, além das representações católicas
que fortalecem a igreja vizinha. O mito é a transcendência a imagem da mucama
amamentando, é uma sabedoria que vive em nós e representa a força desse poder,
dessa energia, que flui no campo de tempo e espaço, fundamentando-se nos
arquétipos de nossa ancestralidade.
Portanto a Mãe Preta realmente é um
símbolo Mítico não pela História de sua vida e sim pelo Mito que se tornou. Há nesse
contexto o aspecto psicossocial onde a torna um símbolo (alegoria) da resistência
a intolerância religiosa. Ação que se fortalece contra preconceitos quando a fé
e as forças que a regem vão às ruas com suas belezas e seus mistérios, ou como
diz Muniz Sodré –Melhor forma de combater o preconceito é o amor -. Mesmo se representasse
apenas o signo de uma resistência sócio-política, em prol das diversidades
étnicas, já vejo aí um grande passo.
Quanto ao artista com ou sem
religiosidade, a sua arte tomou vida própria e conecta diretamente com arquétipos
da ancestralidade negra no Brasil. Há anualmente um cortejo com todas as
simbologias de matrizes africanas chamado Águas Paulo de que culmina na
oferenda de flores e perfumes da Mãe Preta, simbolicamente associada a Oxum,
mãe da maternidade diretamente ligada pelos arquétipos do inconsciente ou como
disse Shaun Mcniff o artista plástico Norte Americano “Há uma paisagem da mente
que precisa ser alimentada pela paisagem real”.
Qual a ligação do escultor com a religiosidade
de matriz africana? Provavelmente nenhuma. Quer-se passou pela cabeça do
escultor que sua obra encomendada pela prefeitura da cidade de São Paulo viria a
se tornar um verdadeiro mito. Mas que sua mão com certeza estava Abençoada pela
Mãe Osun.
Ha rumores dando
tom de fenomento que começa
a se delinear na capital paulista.
São freqüentes as velas acesas ao seu redor;
bilhetes manuscritos pedindo graças e terços atirados no seu dorso. No dia da
Consciência Negra foi coberta de rosas. Os padres da Igreja Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos, que domina o largo, não estão gostando; acham que as
homenagens devem ser dirigidas à santa no altar. Dois detalhes: a escultura de
bronze, instalada em 1955, a igreja foi fundada em 1711 e sua irmandade
continua ativa; é uma das mais antigas do País.
O protesto por parte da igreja é até
pertinente, que essas pessoas louvem os santos da igreja ali do altar do
templo, afinal a escultura tem uma representação alegórica, mas o que
parece sem sentido, faz-se mais significado do que se imagina. Surge
ai um processo em que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente,
desencadeiam o desenvolvimento e uma verdadeira metamorfose da psique, o que de
forma coletiva se encontra, nos diferentes sistemas religiosos e na
transformação de seus símbolos.
O que temos que atentar as pessoas à medida que
vem crescendo sua devoção a escultura em busca de uma conexão com seu poder
através do mito, torna-se uma relação organicamente relevante para vida dessas
pessoas, como reflexos de suas almas, porta vozes de sua ancestralidade.
A execução desses rituais centra o individuo,
e a simples representação do mito, fazendo-os viver diretamente o mito.
A questão que a
Mãe Preta foi além das palavras, da imagem, e ja aponta para alem de si mesma,
o que podemos chamar de transcendencia. Devemos encontrar dentro dessa questão
a sabedoria, não nos apegar a questão alegorica, como fazem alguns urbanistas,
que torcem a boca quando se referem as oferendas deixadas aos pés da imagem, e
sim encontrar os ensinamentos que enriquece nossa sabedoria pessoal, o sinal
que nossa ancestralidade nos aponta com esses mitos urbanos é converte-los seus
arquetipos num caminho próprio.
Ja a escultura do Zumbi dos Palmares de autoria da
Artista Plástica Márcia Magno instalada na Praça da Sé na capital baiana já
simboliza a história de luta e liberdade do povo negro.Como um ícone da
resistência trás em si uma mítica inserida em seu signo e suas idéias que esta
representada são reverenciadas como caminho que evoca nosso selfespiritual
a segui-lo a sermos levado a sua morada, que é nosso próprio coração, que é o
mais profundo de nossa própria fonte espiritual.
Quando ocorre a lavagem da escultura do Zumbi
um ato ritual, feitos pelas negras dos candomblés da Bahia, extrapola a
história e a sociologia, se vemos sua escultura e o ato da lavagem com duas
metáforas assim sendo a ritualística (lavagem) têm conotações dos poderes
espirituais que estão dentro do individuo.
Não se louva a alma de Zumbi, e sim
fortalece o arquétipo que o mito representa dentro de nós, por isso considerado
o signo de toda uma raça, que tem ligação com a harmonização da consciência em
si, em relação à base do ser na natureza, no corpo, que é em si uma
manifestação do mistério. O ritual faz com que deixemos a
interpretação histórica do símbolo numa posição secundaria dando relevância das
formas simbólicas para nossa própria vida.
O Mito nos ajuda a reconhecer a
profundidade do nosso ser, em suma a função principal dos ritos é orientar o
individuo, levando a consciência onírica mais profunda e criativa, somado à
consciência desperta que é critica, esse é o equilíbrio que buscamos o ASÉ!
Sérgio Cumino
– ATOS – Responsabilidade Sócio Comportamental
e Diversidade funcional
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