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terça-feira, 6 de agosto de 2019

JAZ MULHER

JAZ MULHER

Dar-se  semblante feliz
Como flor de lís
Dos jardins ou cortiço
Seja dama de Caras
Ou Diva com marcas
Iludidas as faces

É, sobretudo mulher
Etnia estigmatizada
Leite da mãe preta
As que vivem conto de fadas
Dolo de quem se acha dono
Abolia desequilibradas

Fêmea se vendeu barato
Recebe  sem receio
Amostra grátis do homem
frasco  terno e amarrado
entranhas do comando
a faz posse do alheio

O que pensava amor
Era um gozo postiço
O resto a subserviência
Modelo patriarcal
Afago do sexo frágil
coagir  parece oficio

Que aboli  equidade
o sonho de donzela
temor nos gestos
da senhora da retração
seu olhar parado
Em toda diversidade

anseios mutilados
mulher de natureza morta
que consolam o coração
é cantiga de missa
a luz e suas sombras
e a rua  o corpo jogado

cumbuca sem a colher
em meios pontos cardeais
descarte da ignorância
entorno arena da encruzilhada
daqueles que farejam trágico
e o que julgam àquela mulher

ao fim do precipício
lamentam morte anunciada
Porque mataram a mulher?
E a opinião dos vividos,
“porque era mulher”
A fragrância do feminicídio

SÉRGIO CUMINO – OBSERVATÓRIO 803


Um comentário:

  1. Elizabete Nascimento6 de agosto de 2019 às 19:05

    Um tema tão profundo e importante retratando uma realidade que infelizmente está presente fortemente no cotidiano. Ter essa retratação em um poema e com tamanha profundidade dos fatos dá uma leveza e um tom colorido a tantas amarguras suavizadas. Lamento profundo e um grito agudo escondido no peito a pedir socorro. Ser contemplada com sua profundidade em um tema tenso eleva a alma e faz acreditar que existem pessoas com sensibilidade a dar voz em o "porque era mulher".

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