SURRADA EXISTÊNCIA
Caminha meu velho,
pelo seu descaminho
Do legado apagado
O corpo o abandonou
a tempo segue sozinho
Nas relações vazias
Afogadas nas apatias
e correntezas das rotinas
Suspende, almoço em família
E o conceito de prole
Abolido e descartado
Desinteresse que voga
Perdeu a noção de ser
E os sonhos bastardos
Do seu baú vazado
Com a avaria da barca
Já não sabe se conformar
Fotos, escritos, objetos
Sem lembrança que o farta
Malogrado abjeto
Luxurias de alguma vingança
Arvore que plantou,
Tornou lajota fria
Temperando o desamor
Atropelo de toda pressa
O velho torna a mala
Decepa o tronco da genética
Como efêmera estéticas
Mercadoria que não valha
Desidrata o amor
E a resenha a compor
Chancela a cancela
Entregue a toda dor
Mazelas do meio fio
Onde o plástico recicla
O velho desintegra
Com a mágoa que lhe corta
Experiencia descartada
O saber não é moeda
Afeto pouco importa
Sem o possível talvez
Como pegadas empoeiradas
Abolida pela desfaçatez
O suor escorre pelas rugas
Mistura de medo e pavor
Em profunda prosa com o tempo
Reza que a memória rarefez
O deixou pela mala sem fundos
Submeter-se foi seu vetor
Sem dignidade, identidade e sina
o pai, o filho e o espírito santo
Não resgata o sentido da alma
Cambaleia entre tráfegos urbanos
A invisibilidade urge
Nesse deserto de seres humanos
A fé que lhe guia é o desejo da morte
Que a cada esquina
Há o aceno ao prazo que determina
SÉRGIO CUMINO – O PAULISTANO CAIÇARA
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