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quinta-feira, 6 de abril de 2023

INSONIA E SEUS LAPSOS

 INSONIA E SEUS LAPSOS 

A noite cá dentro se amoita 

E a lua passa sem me perceber 

Nem o vento de fora interfere  

Sua percussão com folhas de flora  

São reflexos do seu mistério 

O desconhecido não me compete 

Nem o aperto impede 

A solidão forjando a náusea 

Rogo por um gole ardendo 

De uma vodca barata 

Para ser o mediador do tempo 

Mas a hora grande 

Mãe de todo silencio 

É recebida a seco 

A provação do que faz sentido 

Sem as maritacas da autoajuda  

E suas alegorias da redenção 

-Falta-lhe Deus  

Afirmam os emissários do divino  

A dúvida me faz procrastinar  

Se sua antítese é o demônio 

Nem ele parece se importar 

A aflição distorce o mundano  

Afasta o cabaré de prazeres  

Que estágio me encontro, 

nesse refluxo que me tira o sono? 

O quarto mofado tem muito a revelar 

Formam figuras como monstros de Goya 

Devem ser espíritos excluídos 

Da prateleira do mercado magico 

São companheiros dessa cela do lapso  

Que esfumaçam a memória  

Até o amor, é um filme mudo 

De uma fita avariada 

Deixou de ser presente, mesmo restaurada  

É declarado no pretérito perfeito 

Para uma ínfima plateia desinteressada  

E a noite não passa, sou passado, 

por uma aflição muda  

No abandono desse quarto. 

SÉRGIO CUMINO - O PAULISTANO CAIÇARA

2 comentários:

  1. Um desabafo com muita propriedade das insônias percorridas e todas as reflexões que trazem a tona.

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  2. E a noite tudo se agiganta...nossos medos e inseguranças fixam maiores

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