PUNHAIS SAGAZES
Fiquei sem chão
Esborrachado na dúvida
Não era esperado
Sem saber o que fazer
em cacos ladrilhado
Passo a pisar em ovos
Nesse círculo de giz
Mandala de destruição
Um piso tátil
Para tatear os estragos
E ter o chão de volta
Para ninguém ser pisado
Não serei mais o alvo
Vilanismo em pele de cordeiro
Afinal de contas
Eu e meu solo
Temos uma ligação
Onde os pés fixam
Mas, lá vem o mas
Falência do vínculo
Desligada no botão
De repente derrete
Interruptor da confiança
Não é o que esperava
Não consagro essa prisão
Sem explicação
A luz apagou
nota de arrependimento
Na escuridão oportuna
Não vai ser preciso
Basta de conversa mole
Sem cogitação
Quando lamento
reflete em silêncio
A confiança traída
Minha consciência
não manda lembrança
Me pega pelo braço
Sem porquês
E se quer um talvez
O desvio de finalidade
Punhal oportuno
fim conflita início
Camufla os meios
Encerra sem reticências
Epílogo estava escrito
Justificativa em vão
Foi a cereja do bolo
A gota que transbordou
A xícara entornou
Isso serve de consolo
Não insiste
Não haverá revide
O ruído foi a marca
Sem perceber
O tempo apaga
Já não importa
Contei as avarias
Vida que segue
Ferida sem cura
O estigma da sina
Alerta do sino
Que toca dentro
a nota única
Mantra da paz
Não terá arranjo
O feito em dolo
De caso pensado
Crise passional
Crueldade voluntária
O trabalho tá feito
Não há perdão
Na via de mão dupla
Suspendi retaliação
Preservo o olho e o dente
desculpas vazias
É o nada no vácuo
Balão de festa
Que já furou
O laço que se soltou
Chega de embaraço
Os pedaços serão partes
Que não se aproveita
É o crivo do respeito
De cultivo próprio
Ausência eloquente
Não dá margem
Desprezar o ultraje
É dá leveza ao movimento
O livramento do seu peso
o espaço não te pertence
É terreno envenenado
Por isso segue em frente
Lastimável, é página virada
Paz de corpo presente
SÉRGIO CUMINO
O CATADOR DE RESENHAS