CRIANÇAS DE JERICÓ
pequenas de folhas frágeis
Voou através dos tempos
Peregrinam pela história
sabedoria o vento transporta
Junto com pesadelos arenosos
E a oralidade atravessa Milênios
Pequena branca como a pomba
Singela, a alma da esperança
símbolo da paz e resistência
florece um povo milenar
Germina ressurreição
A cada ato de destruição
O muro físico do seu jardim
De fora o pedaço surrupiado
Dentro, a dignidade e o templo
Assentados em solo sagrado
Como a décadas programado
Tempestade de balas e bombas
Invadiu o imaginário
Violentaram o tolerável
Envenenaram o solo
Para terminar de dar cabo
Desde a partilha, oito décadas
Muita Praga passou pelo Jardim
corroer território como cancer
Império engolindo a presa
Comendo inocente aos pedaços
Civilização de mutilados
ganância cativa a intolerância
primavera árabe é o prelúdio
Preparativos da mãe discórdia
A ancestralidade do caule reage
Violaram o consagrado
Confiscaram as estações
frio ou quente, sobrou o relento
Séculos renascendo
com pingos d'água
Florescia o divino
Sacro berços palestinos
Adubado a gotas lágrimas
a garoa da misericórdia
Mas o terror clareia a noite
Quando as bombas chegam
Explodem mudas na escola
Trocaram a areia por pólvora
As folhas secam resistindo
Caindo sem perder coragem
Com a força da dignidade
Que passa eternas provações
Existe agora a sangria
Ao roubo das estações
Não se extermina um jardim
Fizeram dele zona de conflitos
ferve o inverno pela o verão
Atacam a flor da esperança
Quais ventos virão?
Fazer desse pesadelo, nação?
Enquanto não chega
O vento grita e berra
Solidariedade desesperada
Revela o que fazem do Jardim
Soprando aos quatro cantos
Escombros como canteiro
Soterraram vivas sementes
sem aprender a sorrir
Médicos, ativistas, jornalistas
Pararam de florir no massacre
Soterraram milhares de corpus
Sob, templos, escolas, hospitais
indignação é o signo da Rosa
Enquanto houver,pingos
Que germine a esperança
Não extinguirá é povo originário
a montanha não vai se mover
Sabem que a água é divindade
Por ter pouco para beber
fogo é luz, aquece corpo e alma
O vento é o próprio ar da graça
Não adianta mutilar o broto
Para que a jornada tenha um nó
Sádico sangramento
De mulheres e crianças
O útero e a esperança
Mas a força que não falta
bênção da Rosa de Jericó
SÉRGIO CUMINO
O CATADOR DE RESENHAS